Mas você largou o jornalismo?
Muitos me perguntam isso ao saberem que agora trabalho com o
plantio de orgânicos.
Na minha mente nesse momento passam algumas reflexões,
alguns paradigmas a serem quebrados, inclusive por eu mesma.
Então, trabalhei na roça até os 14 anos, depois estudei, fiz
faculdade, trabalhei como jornalista, para no fim voltar ao cabo da enxada?
Como se o trabalho braçal fosse menos digno que o trabalho
mental.
Não, eu não larguei o jornalismo, pois escrever faz parte do
meu ser, está no sangue.
O que eu larguei foi o ritmo alucinado do jornalismo, que
nunca foi na verdade o meu ritmo de trabalho.
E sabem, na horta, por mais pesado que possa ser cultivar a
terra, plantar, limpar, colher, é ali que encontro meu verdadeiro ritmo. Trabalho,
canso, paro, recomeço. Exercito a paciência também, pois a planta não dá fruto
da noite para o dia. Precisa cuidar, regar, proteger.
Mas a recompensa, caramba! não tem dinheiro que pague a
satisfação de você colher o próprio alimento, sem medo de colocar ele na boca,
pensando no tanto de químicos ou venenos que são usados pela agricultura
convencional.
Outra alegria é poder fornecer um pouco do que produzimos
para outras pessoas e ver nelas também a satisfação e a tranquilidade de
alimentarem suas famílias com saúde.
O jornalismo continua em mim, de outra forma, fazendo assessoria
de imprensa, num ritmo que também combina com meu novo estilo de vida.
Ops, não é um novo estilo, eu já vivia assim até meus 14
anos, rsrsrs, só estou voltando a ser quem eu sou.
E olha que sobra tempo até para fazer o que tá no sangue e
que eu amo: escrever.
Quem sabe agora seja o momento da caminhada em que eu
realmente crie coragem e realize o sonho de infância, de virar escritora.
